terça-feira, 16 de setembro de 2014

Gente que voa na vida que voa


Gente que voa na vida que voa
(Para Lourdes Gondim e todas as avós que embalam seus netos com belas histórias)
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/ 

Quem precisa de asas para voar? Os pássaros ou avião, gente, não! A receita para que gente alce vôo é bem simples e basta contar com dois ingredientes básicos: uma rede (ou uma cadeira de balanço) e uma avó que saiba contar histórias (o que não é muito difícil de se encontrar pois as avós costumam ser as mais talentosas contadoras de histórias... imagino que deva ser até pré requisito para tão importante função). Em “Vida que Voa” de Lena Martins, essa receita aparece em forma de poesia escrita, poesia costurada, bordada e amarrada. Lena se define "artista popular bonequeira que, junto com um grupo de mulheres vem criando narrativas em que as bonecas negras Abayomi são poesia e bandeira". Para ilustrar ˜Vida que Voa” se juntou a Luciana Grether Carvalho e Carolina Figueiredo e criaram asas costurando, bordando e sobrepondo retalhos de pano num imenso painel/cenário para que uma conversa entre avó e neta nos fizesse lembrar da receita que já conhecíamos, mas que as tarefas cotidianas e o tempo que voa, às vezes, nos fazem esquecer ou não dar a devida importância.
“Vida que Voa” nos leva, inevitavelmente, para as redes que embalaram nossas infâncias com histórias e músicas passadas de geração a geração. “Vida que voa” nos traz a percepção de que memória de gente mistura tempos, espaços e pessoas e que  linha reta do tempo é coisa que não serve pra contar história, serve só para escrever relatório (o que não combina nem com rede, nem com colo de avó, ou seja, não ajuda a voar!).  A linha que nos serve às histórias, precisa ser como linha de costura, colorida e molinha que vai pra um lado, vai pro outro, faz zigue zague e forma desenhos. De repente, passa por um mesmo lugar e reforça um traço, vai para outro e modifica um desenho, sabendo que a história nunca fica pronta e irretocável e sabendo, também, que quando a nossa linha acabar outros vão continuar o bordado, embalando seus netos e bisnetos, contando as historias que hoje contamos, só que do jeito deles e com as cores deles, misturadas com tantas outras que ainda estão por vir.  E o tempo que voa enquanto a gente faz esse bordado é tempo bem aproveitado, é tempo saboreado. E passado assim lembrado abre portas pro sonho e nos deixa revisitá-lo fazendo da saudade sentimento gostoso com cheiro e sabor de esperança, seja de mudança, seja de perpetuação do que foi bom. Mas, nunca na forma de engessamento ou paralisia, pois rede ou cadeira de balanço sem movimento perde sua função!
(obrigada Luciana Grether por me convidar a participar desse vôo)

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