VOCÊ
TEM FOME DE QUE?
Por Ana Lucia Gondim Bastos
Chef, filme de
Jon
Favreau (2014), está longe de ser
considerado um “filmaço” ou merecedor de adjetivos como imperdível ou
sensacional. Mas, e daí? Numa narrativa leve e divertida, daquelas comédias
para se assistir com a família inteira, o personagem principal, Carl Casper
(interpretado pelo próprio diretor), nos faz pensar sobre quais motivações nos
levam às escolhas que fazemos, a todo momento, nas diversas esferas de nosso
cotidiano. Mais que isso, nos leva à reflexão sobre o quanto andamos
desatentos no que diz respeito a serviço do que estão tais motivações ou critérios de escolha, o que, muitas vezes, nos faz levianos em
assuntos de importância nodal em nossas existências.
O grande
Chef Casper, há dez anos, vinha se submetendo às regras do dono de um grande
restaurante. Inicialmente, aquilo tudo poderia até ter feito muito sentido, já que
tinha à sua disposição todo aparato e equipe necessários para se desenvolver
profissionalmente. Mas, passados todos esses anos, o sentido foi se esvaziando
por apenas cozinhar, repetidamente, receitas que já foram aprovadas pelo
público e que, apenas, sustentavam o nome do restaurante. O autoritário dono do
restaurante (participação especial de Dustin Hoffman, que, diga-se de passagem,
é sempre um prazer ver atuando), argumentava a favor da repetição, pedindo que
imaginasse um show do Rolling Stones no qual se recusassem a cantar
Satisfaction. Ou seja, com ou sem
satisfação do profissional, o público
teria que ter o que já esperava encontrar!
Em função
de uma péssima crítica que recebe de um famoso blogueiro gastronômico,
justamente pela falta de criatividade observada no cardápio, Casper tem a vida
e as ideias viradas de pernas pro ar: inábil no tocante à utilização de
recursos tecnológicos acaba expondo a briga com o tal blogueiro e um vídeo de
um atrito presencial acaba virando um viral da internet. Com a necessidade de
entender mais sobre as redes sociais e arrumar novas formas de conseguir
dinheiro fazendo o que sabe fazer, que é cozinhar,
aproxima-se do filho de 10 anos e da ex mulher. Revê conceitos acerca do que significa
sucesso profissional, sobre quais divertimentos o aproximam do filho, sobre significados de amizade e,
até, sobre o que está em jogo para se fazer uma boa comida.
E daí, se tudo isso for muito mais simples e, ainda assim (ou por isso mesmo), muito mais saboroso? Um dia na feira com um pai que ama cozinhar pode ser muito
mais saboroso que um dia num parque de diversão; uma refeição saborosa, dessas
que transformam o dia de alguém, pode vir na forma de um sanduiche e um food
truck pode oferecer muito mais espaço para a criatividade que uma bela cozinha
industrial! O segredo do sabor está no cuidado com o que está sendo produzido
para o outro, não para impressioná-lo, mas para fazê-lo ciente de sua
importância. Um filme gostoso, daqueles que se sai com vontade de ser feliz!
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