segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Você tem fome de quê?


VOCÊ  TEM FOME DE QUE?
Por Ana Lucia Gondim Bastos


Chef, filme de Jon Favreau (2014),  está longe de ser considerado um “filmaço” ou merecedor de adjetivos como imperdível ou sensacional. Mas, e daí? Numa narrativa leve e divertida, daquelas comédias para se assistir com a família inteira, o personagem principal, Carl Casper (interpretado pelo próprio diretor), nos faz pensar sobre quais motivações nos levam às escolhas que fazemos, a todo momento, nas diversas esferas de nosso cotidiano. Mais que isso, nos leva à reflexão sobre o quanto andamos desatentos no que diz respeito a serviço do que estão tais motivações ou critérios de escolha, o que, muitas vezes, nos faz levianos em assuntos de importância nodal em nossas existências.
O grande Chef Casper, há dez anos, vinha se submetendo às regras do dono de um grande restaurante. Inicialmente, aquilo tudo poderia até ter feito muito sentido, já que tinha à sua disposição todo aparato e equipe necessários para se desenvolver profissionalmente. Mas, passados todos esses anos, o sentido foi se esvaziando por apenas cozinhar, repetidamente, receitas que já foram aprovadas pelo público e que, apenas, sustentavam o nome do restaurante. O autoritário dono do restaurante (participação especial de Dustin Hoffman, que, diga-se de passagem, é sempre um prazer ver atuando), argumentava a favor da repetição, pedindo que imaginasse um show do Rolling Stones no qual se recusassem a cantar Satisfaction.  Ou seja, com ou sem satisfação do  profissional, o público teria que ter o que já esperava encontrar!
Em função de uma péssima crítica que recebe de um famoso blogueiro gastronômico, justamente pela falta de criatividade observada no cardápio, Casper tem a vida e as ideias viradas de pernas pro ar: inábil no tocante à utilização de recursos tecnológicos acaba expondo a briga com o tal blogueiro e um vídeo de um atrito presencial acaba virando um viral da internet. Com a necessidade de entender mais sobre as redes sociais e arrumar novas formas de conseguir dinheiro fazendo o que sabe fazer, que é cozinhar,  aproxima-se do filho de 10 anos e da ex mulher. Revê conceitos acerca do que significa sucesso profissional, sobre quais divertimentos o aproximam do filho, sobre significados de amizade e, até, sobre o que está em jogo para se fazer uma boa comida.
 E daí, se tudo isso for muito mais simples e, ainda assim (ou por isso mesmo), muito mais saboroso? Um dia na feira com um pai que ama cozinhar pode ser muito mais saboroso que um dia num parque de diversão; uma refeição saborosa, dessas que transformam o dia de alguém, pode vir na forma de um sanduiche e um food truck pode oferecer muito mais espaço para a criatividade que uma bela cozinha industrial! O segredo do sabor está no cuidado com o que está sendo produzido para o outro, não para impressioná-lo, mas para fazê-lo ciente de sua importância. Um filme gostoso, daqueles que se sai com vontade de ser feliz!

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