A Força da Esperança e das Canções
Por Ana Lucia
Gondim Bastos
As
tramas criadas por Victor Hugo (1802-1885) para seus personagens, deixam sempre
muito evidentes as dimensões históricas, sociais e psicológicas, que as
sustentam. É, justamente, isso que os tornam extremamente consistentes. O
Corcunda de Notre-Dame e Gwynplaine
(criança que tem o rosto mutilado, no sorriso eterno do “O Homem que Ri”) são
dois exemplos de personagens de Victor Hugo que engendram tais tramas e
estimulam nossos sonhos (e pesadelos), nosso espírito crítico, a crença no
nosso potencial de transformação (e de manutenção) de realidades e, também, por
conta de tudo isso, alimentam nossas esperanças! “Os Miseráveis” é, sem dúvida,
mais uma dessas delicadas (e ao mesmo tempo super pesadas) tramas de Victor
Hugo. Seus personagens ora parecem completamente submetidos às determinações
sociais, ora nos fazem acreditar na força da esperança e do amor. Nessa trama,
contudo, tais forças são fomentadas, bem mais do que pelo amor cultivado nas
relações interpessoais ou na felicidade presente em bons encontros e fortes
abraços (como acontece na história de amor do corcunda e sua cigana ou de
Gwynplaine e sua Déia), a ênfase recai, também, no amor de cada um por sua gente e por todos aqueles
que sofrem pelas injustiças e rótulos sociais. Traz a esperança fomentada
pela força da união de muitas vozes cantando pelos direitos humanos. Daí a pertinência
maior de transformar tal trama em musical, no qual o canto de um encontra o
canto do outro e, depois, do outro e do outro, até que um poderoso coro de
resistência se estabeleça. É, justamente, o que acontece na versão
cinematográfica dirigida por Tom Hooper (2012), que conta com elenco grandioso,
responsável por memoráveis e premiadas interpretações.
Uma
emocionante história cantada que me fez lembrar de certa feita ter recebido, de
uma criança, um conto intitulado “A Floresta em cantada”. O encanto de uma história
sonhada virou canção, para aquela menina que começara a explorar a escrita da
língua portuguesa. Achei bonito! Uma imagem que me permitiu embarcar com ela
numa viagem rumo a uma floresta que existe dentro dela e de todos que já foram
embalados por canções que apaziguam a novidade da existência e estabelecem a esperança
no futuro e no florescer de tudo que foi plantado com amor, durante a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário