domingo, 16 de novembro de 2014

Da Mariana Alcoforado às Marianas de todos os tempos


Da Mariana Alcoforado às Marianas de todos os tempos
                                    Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/

“À luz – ou à sombra – da nossa própria época, o que nos ocorre dizer, ao reviver o encontro de uma religiosa amante das letras e um militar que não chegou a aprender o idioma da sua amante?”
A partir desse questionamento, proveniente da imersão nas cartas de amor escritas por Mariana Alcoforado no século XVII, Betina Ruiz (escritora que hoje, reside em terras portuguesas), numa espécie de solilóquio, atualiza a dor da entrega a um amor que não pode ser mais vivido. Talvez, também, a dor de cartas que não seguiram com seu destino de correspondência, de manutenção do contato com o outro, esse outro destinatário de tanto amor.
“Mari” nos fala da importância de poder contar - e talvez até da esperança de que também Mariana Alcoforado pudesse contar – com o acolhimento de outras mulheres, “amigas para nos guiarem pelas mãos” , vozes que possam, em algum momento, nos dar força com palavras como: “Escapa, Mariana, dos círculos invisíveis que aprisionam”. É, assim, um delicado texto sobre o universo feminino e sobre resistência e luta (inclusive interna) pelo direito à vida, ao amor e à liberdade de viver o amor e uma vida inteira.
Por isso mesmo, a obra ganha ainda mais sentido e força, quando Betina convida a artista plástica portuguesa Filomena Bento para ilustrar e encontra, então, o diálogo necessário. Assim, Betina Ruiz e Filomena Bento vão encontrando tradução para os mil encontros, das sem número de Maris: Da Mariana Alcoforado às Marianas de todos os tempos, da Mariana Alcoforado à Mariana que vive dentro de cada uma de nós, da Mariana Alcoforado à todas as mulheres que contam histórias de amor e de luta contra segregação e contra as imposições de silenciar suas vozes e anular suas existências, seja na história da humanidade, seja em nossas trajetórias individuais. 
Como não puderam participar do lançamento brasileiro do resultado dessa co autoria, novos convites de parceria foram feitos: Betina (parte brasileira da produção) convidou mulheres que participaram de diferentes formas, em momentos diversos de sua história, para lerem trechos do livro: uma irmã, uma amiga das irmãs desde a época da adolescência, uma amiga de faculdade e uma amiga do início da vida profissional. Várias vozes, várias Maris, várias mulheres, várias histórias reunidas num mesmo texto... Bonito, mesmo, de ver e um privilégio participar!


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