O Sal da Terra
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
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Depois de assistir ao
documentário “O Sal da Terra”, com a inevitável lembrança de “Pina” (outro
belíssimo documentário dirigido por Win Wenders, 2011), fico com a forte convicção
de que “Asas do Desejo” (http://analuciagbastos.blogspot.com.br/2015/03/asas-do-desejo.html
) só pode ser um filme autobiográfico!
Win Wenders deve ser um anjo que depois de muito
sobrevoar a Terra e conhecer a intimidade das angústias e desassossegos
humanos, caiu do céu, perdeu sua amadura celeste e veio conosco viver, para
olhar pro mundo com as cores que só gente, bem gente, pode enxergar! Encantado
com o que pôde começar a ver e a sentir, resolveu ser diretor de cinema e,
depois de nos contar sobre seu segredo de forma tão explícita que mal pudemos
acreditar, começou a escolher pessoas, cujas obras, poderiam nos fazer entender
melhor o que a passagem bíblica “vós sois o sal da Terra e a luz do mundo”
poderia significar e nos mostrar como, tal passagem, sugere uma transformação
individual, que só poder ser vivida no coletivo.
Incrível, assistir ao “Sal da Terra” foi, para mim,
uma experiência quase religiosa ao mesmo tempo que tudo que tem ali - imagens,
gestos, texto - tudo é tão nosso, tão, dolorosamente, mundano! Aliás, todo o
filme, em seus múltiplos aspectos, nos leva a perceber coexistências que, nem
sempre, apesar de assim nos parecer, se traduzem em antagonismos. Ao contrário,
podem ser entendidas como continuidades (tal como numa fita de Moebius, o
dentro e o fora se apresentam de forma contínua). Sebastião Salgado é brasileiro,
bem brasileiro! Mas, para além (ou aquém) de qualquer coisa, é um fotografo que
retrata, com a mesma sensibilidade, histórias de qualquer lugar do mundo. Sim,
a linguagem dele é universal, assim como sua preocupação, fica claro, é com o
ser humano de forma abrangente; com tudo
o que a vida comporta de dores, de guerra, de desamparo, seja onde for.
Da mesma forma, cada retrato é uma história individual congelada numa fração de
segundo e, a expressão de cada um que se oferece ao registro, é a de quem
encontrou um olhar atento à sua dor e à sua história, como única e irrepetível.
Por outro lado, Sebastião vai atrás de histórias contadas por povos, por
culturas e se intitula, em certo momento, um fotografo social. Outra dicotomia
encontra-se entre o homem e a paisagem natural, ou entre o homem e as outras
formas de vida no planeta. O fotografo social não perde sua identidade como tal
ao olhar pro mundo em sua dimensão físico- geográfica, conta-nos e nos convence, poeticamente, que fazemos parte
de tudo isso e que temos tempo para cuidar do que destruímos, reparar para
continuarmos existindo, e ainda, quem sabe, mais integrados, mais solidários e
menos solitários.
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