quarta-feira, 22 de abril de 2015

O Sal da Terra


O Sal da Terra
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/

Depois de assistir ao documentário “O Sal da Terra”, com a inevitável lembrança de “Pina” (outro belíssimo documentário dirigido por Win Wenders, 2011), fico com a forte convicção de que “Asas do Desejo” (http://analuciagbastos.blogspot.com.br/2015/03/asas-do-desejo.html ) só pode ser um filme autobiográfico!
Win Wenders deve ser um anjo que depois de muito sobrevoar a Terra e conhecer a intimidade das angústias e desassossegos humanos, caiu do céu, perdeu sua amadura celeste e veio conosco viver, para olhar pro mundo com as cores que só gente, bem gente, pode enxergar! Encantado com o que pôde começar a ver e a sentir, resolveu ser diretor de cinema e, depois de nos contar sobre seu segredo de forma tão explícita que mal pudemos acreditar, começou a escolher pessoas, cujas obras, poderiam nos fazer entender melhor o que a passagem bíblica “vós sois o sal da Terra e a luz do mundo” poderia significar e nos mostrar como, tal passagem, sugere uma transformação individual, que só poder ser vivida no coletivo.
Incrível, assistir ao “Sal da Terra” foi, para mim, uma experiência quase religiosa ao mesmo tempo que tudo que tem ali - imagens, gestos, texto - tudo é tão nosso, tão, dolorosamente, mundano! Aliás, todo o filme, em seus múltiplos aspectos, nos leva a perceber coexistências que, nem sempre, apesar de assim nos parecer, se traduzem em antagonismos. Ao contrário, podem ser entendidas como continuidades (tal como numa fita de Moebius, o dentro e o fora se apresentam de forma contínua). Sebastião Salgado é brasileiro, bem brasileiro! Mas, para além (ou aquém) de qualquer coisa, é um fotografo que retrata, com a mesma sensibilidade, histórias de qualquer lugar do mundo. Sim, a linguagem dele é universal, assim como sua preocupação, fica claro, é com o ser humano de forma abrangente; com tudo  o que a vida comporta de dores, de guerra, de desamparo, seja onde for. Da mesma forma, cada retrato é uma história individual congelada numa fração de segundo e, a expressão de cada um que se oferece ao registro, é a de quem encontrou um olhar atento à sua dor e à sua história, como única e irrepetível. Por outro lado, Sebastião vai atrás de histórias contadas por povos, por culturas e se intitula, em certo momento, um fotografo social. Outra dicotomia encontra-se entre o homem e a paisagem natural, ou entre o homem e as outras formas de vida no planeta. O fotografo social não perde sua identidade como tal ao olhar pro mundo em sua dimensão físico- geográfica, conta-nos e  nos convence, poeticamente, que fazemos parte de tudo isso e que temos tempo para cuidar do que destruímos, reparar para continuarmos existindo, e ainda, quem sabe, mais integrados, mais solidários e menos solitários. 

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