Conselho de mineiro
Por Ana Lucia Gondim Bastos
Foi só colocar o pé em Minas que já recebi o
primeiro valioso conselho, numa despretensiosa parada para pedir informação :
“Quando ocê chegar naquela estrada, ocê não larga dela não, que você vai
chegar onde ocê quer!”. Me pus a refletir, sobre quantas estradas tive a
convicção que me levariam a destinos sonhados e “num larguei delas, não”, até
chegar lá. Lembrei que, quase todas as vezes, deu certo e, então, segui viagem.
Antes mesmo do dia chegar ao fim, cheguei numa pousada administrada por uma
senhora de 82 anos e, logo, recebi o segundo conselho do dia: “para chegar na
minha idade com a cabeça boa, tem que estar sempre mexendo com a vida!”. Fui
dormir pensando em como é difícil não largar estradas e, ao mesmo tempo, não
parar de mexer com a vida!
Conselho mineiro é sempre assim, parece
simples, mas é de uma complexidade sem tamanho! É exatamente como o sotaque:
parece que estão oferecendo as palavras mastigadas para o entendimento, mas aí
é que fica difícil a compreensão. Para entender um conselho mineiro é preciso
estar bem atento ao que está sendo dito e nunca menosprezar a profundidade.
Mas, como poderia ser diferente? Em Minas não se apaixona por, se apaixona com
alguém. Já pensou o que é isso? Um povo
desse só pode dar bons conselhos! Claro,
que os melhores conselhos nem sempre são os mais fáceis de seguir, mas, o fato
é que eu, com certeza, daqui pra frente vou manter os olhos abertos para não
largar estradas as quais acredito me levar para lugares onde quero estar, sem
perder a capacidade de mexer com a vida, enquanto isso. Um malabarismo
necessário, com o qual até venho lidando há um certo tempo, mas que só numa
viagem a Minas consigo encontrar as palavras certas para dele falar.
Mais uma vez, saio de Minas, com o coração
cheio de gratidão... trem bom demais da conta, sô!