quinta-feira, 17 de julho de 2014

Experimente Inhotim


Experimente Inhotim
Por Ana Lucia Gondim Bastos


Tem lugares que se visita e tem lugares que se experimenta. Estes últimos, em geral, são lugares desconcertantes, difíceis de descrever até mesmo o que produziu no visitante/experimentador. Inhotim é, justamente, um lugar a ser experimentado! Um lugar no qual construções grandiosas de cimento armado, madeira ou vidro surgem, como por encanto, no meio de ambientes de trilhas na floresta ou de jardins cuidadosamente estudados. Nessas construções deve-se entrar  preparado para ser surpreendido (é importante saber que em lugares encantados é sempre assim. É só lembrarmos de como ouvíamos contos de fadas: sempre preparados para a surpresa!). De repente, numa das construções que surgem no meio da trilha que você escolheu, pode-se entrar e ouvir pesadelos horríveis, músicas incríveis ou mesmo o som da Terra proveniente de um furo de 200 metros. Pode-se, também, dar de cara com instalações coloridíssimas, fotografias ou vídeos em enormes salões. Quem sabe, entrar num porão de navio e sentir o peso dos recortes sombrios de Miguel Rio Branco em sua passagem pelo Pelourinho. Ou encontrar um vandário com orquídeas em extinção, um jardim dos sentidos ou um jardim do deserto. Entre uma surpresa e outra é possível descansar em bancos gigantes talhados em troncos de arvores milenares. Victor Grippo conclui em sua obra que “a luz de qualquer lugar atribui sentido às coisas que tendem a ter sentido”. Mas, a luz de Inhotim é uma luz diferente. Uma luz que nos remete a novos sentidos, na verdade, atribui sentido ao que não parecia tender a ter sentido ou nos faz questionar se o sentido que parecia estar ali, não era só uma ilusão.
Acho que a obra que mais me ajuda a falar sobre o lugar é a de Adriana Varejão. Num banco, externo à construção,  composto por azulejos nos quais foram pintados várias sortes de plantas alucinógenas, salta um texto científico sobre o que produzem:

“... produzem mudanças profundas e agudas na esfera da experiência, na percepção da realidade, nas noções de espaço e tempo... Permanecendo inteiramente consciente, o indivíduo experimenta uma espécie de universo onírico, que em muitos aspectos parece mais real que  o mundo habitual da normalidade. Objetos e cores, tornando-se em geral mais brilhantes, perdem o caráter simbólico; permanecem à parte e assumem um significado maior, ganhando uma existência como que mais intensa.”
Richard E. Schultes & Albert Hofmann,
The Botany and Chemistru of Hallucinogens

Depois dessa leitura e de percorrer os três andares da construção destinada às obras dessa artista, um novo banco de azulejos. Nesse último, passarinhos coloridos adornam os azulejos e, de repente, um escapa e sai voando! É assim, em Inhotim. Vale à pena experimentar!