Mania de Explicação
(Para Ana
Carolina Grether, com quem compartilho o interesse pelos recados que o coração
sempre está precisando mandar)
Por Ana Lucia
Gondim Bastos
“Não
tenho medo de crescer”- diz Isabel na véspera do seu aniversário de 13 anos –
“Tenho medo de crescer por fora e continuar pequena por dentro!”. E é assim,
num mergulho em suas diversas indagações e inseguranças em relação às suas
construções acerca do (re)conhecimento das coisas do mundo e de seus próprios
sentimentos, que Isabel encanta adultos e crianças na peça “Mania de Explicação”
que Luana Piovani traz a São Paulo, baseado no livro de Adriana Falcão (diga-se
de passagem, livro que já mora em meu baú de histórias, há algum tempo). Para facilitar o entendimento das coisas, às
vezes, precisamos ir fundo nelas, também descobre, a menina. A facilidade nada
tem a ver com a superficialidade! Todo
período de ruptura, de grande transformação e de importantes decisões precisa
desse aprofundamento em todos os sentidos que vão sendo, ininterruptamente,
construídos para/na nossa experiência no
mundo, aprofundamento naquilo que faz com que desenhemos nosso caminho de
maneira única e autoral.
Adverte
a lagarta que já se sabe futura borboleta: “quem é dono do próprio nariz e faz
o melhor que pode na direção do que deseja, não tem que ter medo do por vir".
Mas, e quando ainda não se sabe o que se deseja ou que história se quer contar?
Aí não tem jeito, é se conformar e pegar a estrada que nos leva pra dentro da
gente, sabendo necessária a disposição para (re) encontrar cobras e lagartos
que habitam ou já habitaram nossos armários, sótãos e porões, mas, também, nossos sonhos, amigos
imaginários e toda sorte de personagem que dá ou já deu contorno às nossas dúvidas, aos nossos
medos, às nossas ambiguidades e a tudo mais que cabe no registro de sentimento.
Lembrando que sentimento, também definiu Isabel, “é a língua que o coração usa quando
precisa mandar algum recado”.
Toda essa inevitável,
às vezes cansativa e sempre repleta de inseguranças, busca por caminhos e sentidos,
tecendo tramas de relações e afetos que nos vinculam e nos fazem nos apropriar
de nossas narrativas de vida, é muito mais leve se contamos com uma boa
dose de poesia e alegria. Nesta peça essa possibilidade de leveza é apresentada
com a costura do texto realizada através
de músicas de Raul Seixas cantadas pelo elenco, num cenário de muita magia,
texturas e cores.
Depois de Alice no
País das Maravilhas (2003) e O Pequeno Príncipe (2006), Luana encara mais uma
viagem na auto descoberta, mais uma viagem daquelas que o processo é mais
importante do que o destino, porque só sabemos do destino quando já nos
percebemos chegados e prontos para a próxima aventura...