segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Magia ao Luar


Magia ao Luar
Por Ana Lucia Gondim Bastos
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Ambientado em 1928, momento no qual a psicanálise já começava a ter eficácia clínica e fundamentos teóricos reconhecidos socialmente, o novo filme de Woody Allen traz, com muita delicadeza, questões acerca de produções de realidades e de (in)certezas que tocam as explicações que a elas emprestamos para construirmos nossas narrativas.
O protagonista é um renomado ilusionista inglês capaz de se passar, em cena, por um chinês que faz elefantes desaparecerem diante de uma plateia extasiada, ao mesmo tempo que desacredita totalmente na existência de qualquer tipo de mágica ou evento inexplicável pela racionalidade. Para ele, de fato, qualquer magia é mera ilusão e defende essa verdade com unhas e dentes! Até o dia em que um amigo o leva ao encontro de uma jovem médium afim de que desvende seus truques e desmascare mais essa impostora. Contudo, a tarefa, de início, já não se apresenta tão simples e Stanley começa a se encantar (com toda a abrangência de sentido que encantar-se pode ter) pela bela Sophie. É num passeio repleto de imprevistos que Stanley leva Sophie a um observatório e confessa temer a imensidão do universo. A naturalidade e leveza com que a moça aprecia o céu e suas estrelas e o romantismo que neles enxerga, parece oferecer acolhimento para o até então poderoso homem da racionalidade, que ali começa a apresentar seu menino assustado.Com diálogos espirituosos, ótimas atuações e excelente trilha musical, o filme merece ser assistido e desvendar as surpresas do roteiro seria como não respeitar a magia que propõe. Portanto, fiquemos por aqui! Mas, vale ressaltar mais essa homenagem à psicanálise (como clínica e constructo teórico) que tem como desafio nos manter capazes de encantamento com a vida - com as descobertas e encontros que oferece - sem que, para isso, precisemos tirar os pés do chão, desconsiderando nossa condição de seres vulneráveis e mortais. Assim como, de nos manter capazes de protagonizar nossas histórias, mesmo cientes de que o controle de seus destinos é sempre bem limitado e, seus caminhos, muito pouco previsíveis.

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