FRIDA Y DIEGO
Por Ana Lucia Gondim Bastos
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Diz um ditado - já um tanto
anacrônico, é verdade – “Por trás de um grande homem, existe sempre uma
grande mulher!”. Era utilizado para enaltecer a mulher que, supostamente dava
suporte, no âmbito da vida privada, para as grandes realizações de homens que
se destacavam na vida pública. Atualmente, já ouvi, o mesmo ditado, dito
invertendo as posições de gênero, o que não soa estranho, tendo em vista as
muitas mudanças nas relações de gênero e em suas inserções sociais, seja no
tocante à vida pública, seja à vida privada. É bem verdade que, hoje em dia,
não soaria nada estranho se o mesmo ditado falasse sobre duas mulheres ou sobre
dois homens, mas, a questão é: por que uma parte do casal precisaria estar à
sombra da outra?
Frida y Diego (peça dirigida por
Eduardo Figueiredo e escrita por Maria Adelaide Amaral, em cartaz no Teatro
Raul Cortez, em São Paulo), traz esse questionamento à tona, em situações
transcorridas entre 1929 e 1953, protagonizadas pelo casal cuja relação pareceu
estar sempre “com sol a pino”, sem que a sombra de um recaísse sobre o outro,
seja na perspectiva pública, seja na
perspectiva privada (apesar de, em momentos alternados, um manifestar a sensação de menor que o outro).
Obras e vidas de cores quentes, de militâncias aguerridas e sentimentos intensos! O encontro do caminho de Frida com o de Diego (segundo ela
um acidente tão impactante em sua história, quando o sofrido na juventude,
consequência do qual passou muito tempo de cama recuperando-se das inúmeras
cirurgias, muito tempo utilizando toda sorte de aparelhos ortopédicos e todo o resto do tempo com dores atrozes),
fez com que expusessem, em suas obras e em suas narrativas de vida, a força das
transformações sociais, políticas e culturais pelas quais vinham passando toda a coletividade. Todos os conflitos e ambivalências, vividos por todos nós, até os
dias de hoje e sobre os quais, só agora, sentimos poder começar a colocar
palavras. Frida dizia não fazer parte do movimento surrealista, mas ter uma
vida surrealista. Tudo era assim, nesse casal, vivido em carne viva e nervo
exposto! Ora aumentando as feridas existenciais um do outro, ora cuidando e
trazendo conforto, prosseguiram contando suas histórias interligadas. Mas, de todo modo, um mural de Diego não se confunde a um quadro de Frida,
prosseguiram sendo dois sujeitos, dois grandes artistas com formas e cores
próprias de falar sobre dores e ardores de uma vida vivida com sol a pino...
Foi, sem dúvida, um grande encontro! Para nós, encontro que deixou um legado de
referências que podem nos ajudar a nos entender melhor, a entender nossa história
(sobretudo, nossa vivência latina americana), nossos sentimentos, nossas
contradições e ambivalências. Tudo tão exagerado e tão verdadeiramente pulsante
que nos ajuda, inclusive, a buscar em nós mesmos a força para seguir lutando por
sonhos e amores que nos vinculem, tão fortemente, à vida, que nos façam
enfrentar a presença, inevitável, da morte. Vale à pena conhecer Frida, vale à
pena conhecer Diego, vale à pena conhecer Frida y Diego!