segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Frida y Diego


FRIDA Y DIEGO
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/ 

Diz um ditado - já um tanto anacrônico, é verdade – “Por trás de um grande homem, existe sempre uma grande mulher!”. Era utilizado para enaltecer a mulher que, supostamente dava suporte, no âmbito da vida privada, para as grandes realizações de homens que se destacavam na vida pública. Atualmente, já ouvi, o mesmo ditado, dito invertendo as posições de gênero, o que não soa estranho, tendo em vista as muitas mudanças nas relações de gênero e em suas inserções sociais, seja no tocante à vida pública, seja à vida privada. É bem verdade que, hoje em dia, não soaria nada estranho se o mesmo ditado falasse sobre duas mulheres ou sobre dois homens, mas, a questão é: por que uma parte do casal precisaria estar à sombra da outra?
Frida y Diego (peça dirigida por Eduardo Figueiredo e escrita por Maria Adelaide Amaral, em cartaz no Teatro Raul Cortez, em São Paulo), traz esse questionamento à tona, em situações transcorridas entre 1929 e 1953, protagonizadas pelo casal cuja relação pareceu estar sempre “com sol a pino”, sem que a sombra de um recaísse sobre o outro, seja na perspectiva  pública, seja na perspectiva privada (apesar de, em momentos alternados, um  manifestar a sensação de menor que o outro). Obras e vidas de cores quentes, de militâncias aguerridas e sentimentos intensos! O encontro do caminho de Frida  com o de Diego (segundo ela um acidente tão impactante em sua história, quando o sofrido na juventude, consequência do qual passou muito tempo de cama recuperando-se das inúmeras cirurgias, muito tempo utilizando toda sorte de aparelhos ortopédicos  e todo o resto do tempo com dores atrozes), fez com que expusessem, em suas obras e em suas narrativas de vida, a força das transformações sociais, políticas e culturais pelas quais vinham passando toda a coletividade. Todos os conflitos e ambivalências, vividos por todos nós, até os dias de hoje e sobre os quais, só agora, sentimos poder começar a colocar palavras. Frida dizia não fazer parte do movimento surrealista, mas ter uma vida surrealista. Tudo era assim, nesse casal, vivido em carne viva e nervo exposto! Ora aumentando as feridas existenciais um do outro, ora cuidando e trazendo conforto, prosseguiram contando suas histórias interligadas. Mas, de todo modo, um mural de Diego não se confunde a um quadro de Frida, prosseguiram sendo dois sujeitos, dois grandes artistas com formas e cores próprias de falar sobre dores e ardores de uma vida vivida com sol a pino... Foi, sem dúvida, um grande encontro! Para nós, encontro que deixou um legado de referências que podem nos ajudar a nos entender melhor, a entender nossa história (sobretudo, nossa vivência latina americana), nossos sentimentos, nossas contradições e ambivalências. Tudo tão exagerado e tão verdadeiramente pulsante que nos ajuda, inclusive, a buscar em nós mesmos a força para seguir lutando por sonhos e amores que nos vinculem, tão fortemente, à vida, que nos façam enfrentar a presença, inevitável, da morte. Vale à pena conhecer Frida, vale à pena conhecer Diego, vale à pena conhecer Frida y Diego!

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