Gente que voa na vida que
voa
(Para Lourdes Gondim e todas as avós
que embalam seus netos com belas histórias)
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
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Quem precisa de asas para voar? Os pássaros ou avião,
gente, não! A receita para que gente alce vôo é bem simples e basta contar com
dois ingredientes básicos: uma rede (ou uma cadeira de balanço) e uma avó que
saiba contar histórias (o que não é muito difícil de se encontrar pois as avós
costumam ser as mais talentosas contadoras de histórias... imagino que deva ser
até pré requisito para tão importante função). Em “Vida que Voa” de Lena
Martins, essa receita aparece em forma de poesia escrita, poesia costurada,
bordada e amarrada. Lena se define "artista popular bonequeira que, junto com um
grupo de mulheres vem criando narrativas em que as bonecas negras Abayomi são
poesia e bandeira". Para ilustrar ˜Vida que Voa” se juntou a Luciana Grether
Carvalho e Carolina Figueiredo e criaram asas costurando, bordando e sobrepondo
retalhos de pano num imenso painel/cenário para que uma conversa entre avó e
neta nos fizesse lembrar da receita que já conhecíamos, mas que as tarefas
cotidianas e o tempo que voa, às vezes, nos fazem esquecer ou não dar a devida
importância.
“Vida que Voa” nos leva, inevitavelmente, para as
redes que embalaram nossas infâncias com histórias e músicas passadas de
geração a geração. “Vida que voa” nos traz a percepção de que memória de gente
mistura tempos, espaços e pessoas e que linha
reta do tempo é coisa que não serve pra contar história, serve só para escrever
relatório (o que não combina nem com rede, nem com colo de avó, ou seja,
não ajuda a voar!). A linha que nos
serve às histórias, precisa ser como linha de costura, colorida e molinha que
vai pra um lado, vai pro outro, faz zigue zague e forma desenhos. De repente,
passa por um mesmo lugar e reforça um traço, vai para outro e modifica um
desenho, sabendo que a história nunca fica pronta e irretocável e sabendo,
também, que quando a nossa linha acabar outros vão continuar o bordado,
embalando seus netos e bisnetos, contando as historias que hoje contamos, só
que do jeito deles e com as cores deles, misturadas com tantas outras que ainda
estão por vir. E o tempo que voa
enquanto a gente faz esse bordado é tempo bem aproveitado, é tempo saboreado. E
passado assim lembrado abre portas pro sonho e nos deixa revisitá-lo fazendo da
saudade sentimento gostoso com cheiro e sabor de esperança, seja de mudança,
seja de perpetuação do que foi bom. Mas, nunca na forma de engessamento ou
paralisia, pois rede ou cadeira de balanço sem movimento perde sua função!
(obrigada Luciana Grether por me convidar a participar desse vôo)