domingo, 3 de agosto de 2014

O Melhor Lance


O Melhor Lance
Por Ana Lucia Gondim Bastos


Uma história sobre a dificuldade com o movimento: com o movimento da vida, do tempo, das pessoas... Como protagosnista, um homem que só podia ter mulheres estáticas, presas à bidimensonalidade, pálidas e sem vida, mas cujos olhares transmitiam o mistério contido em toda obra de arte. É o próprio Sr Oldman (o mais novo personagem de Giuseppe Tornatore) quem diz que para ser um artista não basta amar arte e ter pinceis, é preciso mistério. E, era esse mistério que o mais bem conceituado leiloeiro e especialista em arte e antiguidades tinha a ilusão de controlar, reconhecendo qualquer traço de falsificação e atribuindo valores às obras de forma segura e assertiva. Mantinha, também, a ilusão de controle e possibilidade de proteção desse mistério com sua coleção de luvas e lenços que evitavam contato direto com coisas ou pessoas e com a tintura escura que uniformizava a cor dos seus cabelos, já repletos de fios brancos – sinais da inevitabilidade da passagem do tempo e do movimento da vida. Enquanto isso, sua coleção de mulheres pálidas só aumentava em sua sala secreta atrás do compartimento destinado à coleção de luvas. Isso pôde se manter até a chegada de Claire em sua vida. Uma moça muito jovem e misteriosa que solicitou que sr Oldman avaliasse a herança deixada por seus pais. Uma jovem também presa numa parede, já que, devido a uma diagnosticada fobia de contatoe de lugares abertos, não sai de seu quarto cujos contornos da porta são disfarçados pelas pinturas na parede. Claire, durante a primeira parte do filme, é uma voz por trás de uma parede e um olho que espreita num pequeno orifício aberto no lugar do olho de um pássaro da pintura da parede, um pássaro que não voa. É assim que Sr Oldman começa a ver suas proteções se desmontarem e seu controle das situações colocado em xeque. Ë assim: conversando com um espelho que não o reflete, por estar atrás da parede, mas que restaura a esperança da confiança na autenticidade do outro. Virgil (primeiro nome de sr Oldman) tenta encontrar seus caminhos de movimento através da busca de caminhos para Claire e, por isso mesmo, não repara que o espelho não o reflete, não repara na opacidade da parede. Daí que o mistério vira suspense! Enquanto isso, uma outra relação começa a se estabelecer e fortalecer: a de Oldman e de um jovem relojoeiro que passa a ajuda-lo a montar um autômato, com peças encontradas na mansão de Claire. Enquanto o autômato vai ganhando forma os dois conversam sobre o interesse de Oldman por Claire e ele passa a pedir conselhos ao jovem rapaz, admitindo não saber o que fazer. Um suspense sobre a tentativa de se livrar de encastelamentos defensivos, solidificados por muitos anos na busca por manter o controle sobre relações e emoções. Sobre uma casa, uma vida e um corpo que apesar de projetados para promover encontros tiveram como destino a assepcia do isolamento. Destino que Virgil percebeu não estar condenado a cumprir, pelo menos num dado momento de sua vida. Vale à pena assistir!