Experimente Inhotim
Por Ana Lucia Gondim Bastos
Tem lugares
que se visita e tem lugares que se experimenta. Estes últimos, em geral, são lugares
desconcertantes, difíceis de descrever até mesmo o que produziu no
visitante/experimentador. Inhotim é, justamente, um lugar a ser experimentado! Um
lugar no qual construções grandiosas de cimento armado, madeira ou vidro surgem, como por
encanto, no meio de ambientes de trilhas na floresta ou de jardins
cuidadosamente estudados. Nessas construções deve-se entrar preparado para ser surpreendido (é importante
saber que em lugares encantados é sempre assim. É só lembrarmos de como
ouvíamos contos de fadas: sempre preparados para a surpresa!). De repente, numa
das construções que surgem no meio da trilha que você escolheu, pode-se entrar
e ouvir pesadelos horríveis, músicas incríveis ou mesmo o som da Terra
proveniente de um furo de 200 metros. Pode-se, também, dar de cara com
instalações coloridíssimas, fotografias ou vídeos em enormes salões. Quem sabe,
entrar num porão de navio e sentir o peso dos recortes sombrios de Miguel Rio
Branco em sua passagem pelo Pelourinho. Ou encontrar um vandário com orquídeas
em extinção, um jardim dos sentidos ou um jardim do deserto. Entre uma surpresa
e outra é possível descansar em bancos gigantes talhados em troncos de arvores
milenares. Victor Grippo conclui em sua obra que “a luz de qualquer lugar
atribui sentido às coisas que tendem a ter sentido”. Mas, a luz de Inhotim é
uma luz diferente. Uma luz que nos remete a novos sentidos, na verdade, atribui
sentido ao que não parecia tender a ter sentido ou nos faz questionar se o
sentido que parecia estar ali, não era só uma ilusão.
Acho que a
obra que mais me ajuda a falar sobre o lugar é a de Adriana Varejão. Num banco,
externo à construção, composto por
azulejos nos quais foram pintados várias sortes de plantas alucinógenas, salta
um texto científico sobre o que produzem:
“... produzem
mudanças profundas e agudas na esfera da experiência, na percepção da
realidade, nas noções de espaço e tempo... Permanecendo inteiramente consciente,
o indivíduo experimenta uma espécie de universo onírico, que em muitos aspectos
parece mais real que o mundo habitual da
normalidade. Objetos e cores, tornando-se em geral mais brilhantes, perdem o
caráter simbólico; permanecem à parte e assumem um significado maior, ganhando
uma existência como que mais intensa.”
Richard E.
Schultes & Albert Hofmann,
The Botany and
Chemistru of Hallucinogens
Depois dessa
leitura e de percorrer os três andares da construção destinada às obras dessa
artista, um novo banco de azulejos. Nesse último, passarinhos coloridos adornam
os azulejos e, de repente, um escapa e sai voando! É assim, em Inhotim. Vale à
pena experimentar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário