domingo, 21 de dezembro de 2014

Boyhood ou sobre o momento que o elenco principal vira plateia


Boyhood ou sobre o momento que o elenco principal vira plateia
                                                                                                Por Ana Lucia Gondim Bastos
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É curioso perceber o momento no qual as crianças, que vimos crescer, passam a protagonizar suas vidas de forma mais autônoma. É como se fizéssemos parte de um elenco principal ou da equipe de direção de uma produção que , de certa forma,  traça os caminhos e escolhe cenários para que as histórias das crianças aconteçam. Contudo, numa certa etapa da história, você, junto com todo o elenco principal, passa a servir apenas como elenco de apoio, pois as crianças viram jovens que já podem traçar e escolher os tais caminhos e cenários por onde querem que suas histórias aconteçam e, então, os principais jogadores do campeonato, viram torcida. Ë mesmo, uma mudança de perspectiva, muitas vezes, difícil de engolir, mas extremamente saborosa para quem não resiste a ela, a despeito da dificuldade.
Durante 12 anos, a equipe responsável pelo filme Boyhood (2014), sob a direção de Richard Linklater , se reuniu, anualmente, para gravar um filme que contaria a história do cotidiano de um menino americano. No roteiro, nenhum clímax, ponto central ou momento de virada. Isso não quer dizer que, no curso da narrativa, não acompanhemos mudanças de cidade,  estabelecimento e rompimento de laços afetivos e tudo mais que todo tecido de vida tem. Ë uma vida sendo vivida na tela, enquanto, fora dela, atores vão envelhecendo e hábitos culturais vão se alterando. Essa é a graça (ou a falta dela, na opinião de alguns) do filme cujo protagonista adora Harry Potter (personagem que também nos fez acompanhar o envelhecimento de todo um elenco, durante anos. Só que , nesse caso, com um filme por ano e com histórias fantásticas). Impossível para o espectador de Boyhood, em algum dos 166 minutos do filme, não se perguntar como vai acabar, já que não tem o que se resolver naquele roteiro, além da própria vida que vai se resolvendo, do jeito que dá, enquanto ela não acaba. E aí talvez esteja o ponto alto do filme e da ideia que o fez existir: o filme acaba quando a meninice de Mason acaba e ele tem (e quer) que seguir fazendo suas escolhas  de forma autônoma. Momento que novo elenco teria que ser contratado, para se continuar o filme, pois papéis sociais foram alterados.
O que mais me emocionou, contudo, não foi exatamente o filme, mas o que ele promoveu: fui assisti-lo por indicação de uma jovem, que nasce este ano como cineasta, e de quem acompanhei a meninice. Ela deixou uma mensagem de Whatsapp para mim, dizendo que eu não poderia deixar de assistir àquele filme tão delicado e que falava tanto de sua escolha pelo cinema. E eu, ao final do filme, entendi tudo: mais uma vez, meu ingresso na história passa para um lugar na plateia e isso, é delicado e belo, mesmo, Gabi! Boa sorte!

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