RELATOS SELVAGENS
Por Ana Lucia
Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
Em
1930, Freud publicou “O Mal estar na Civilização”. Dedicou um livro inteiro
discutindo a inevitabilidade desse mal estar, preço pago para vivermos em sociedade,
fruto da constante necessidade de lidarmos com nossas pulsões, em relações
sociais de complexidade ímpar. Falamos em pulsões e não instintos, justamente,
por estarmos tratando de uma particularidade humana, que faz com que as
demandas pulsionais não tenham respostas idênticas, tais quais os instintos dos
outros animais.
Cada momento histórico oferece (im)possibilidades de tentarmos
dar conta de tal equação de duas variáveis, quais sejam as demandas pulsionais
e as demandas sociais. Contudo, vale ressaltar, é sempre uma equação bastante complicada e nem
sempre bem sucedida.
Em
2014, Damián Szifron apresenta-nos, em breves relatos rodados com maestria e ótimos atores, momentos nos quais nos percebemos distantes das possibilidades de lidarmos com
nossas feras utilizando recursos simbólicos, o pensamento ou
a memória (estes, também, de manifestações bem particulares,
no gênero humano). Não acho que o filme “Relatos Selvagens” trate nosso momento
histórico como um momento de especial selvageria, com cada vez menos espaço
para o pensamento. Mas, sem dúvida, ao trazer a reflexão para mais próximo de
nosso cotidiano, não nos deixa sair do cinema com a reconfortante sensação de “ainda bem que
as coisas não são mais assim”! Como já podemos, porventura, ter saído de um
filme baseado em textos de Victor Hugo (1802-1885), por exemplo.
Depois
de um filme impactante desses é impossível não nos percebermos próximos a
entrar num relato selvagem, cada vez que a única alternativa nos parecer se
limitar a “explodir tudo”. E, como o pensamento, doutra sorte, é o que pode nos
afastar de tais relatos (ou de experiências com relatos impossibilitados, pela
própria ausência de abertura para o pensar), eis um filme indispensável!
Nenhum comentário:
Postar um comentário