terça-feira, 10 de junho de 2014

Água Negra



Água Negra
Por Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/ 


O suspense vivido por todos nós: a possibilidade de fantasmas de criança, desaparecidos nas estradas da vida, retomarem sua força e reaparecerem com cores do presente, em função de novos acontecimentos, novos cursos da vida. É isso que tira o fôlego tanto na versão japonesa, de Koji Suzuki (2002), quanto no remake americano, dirigido por Walter Salles (2005), de Água Negra. De um tempo para outro; de um andar para outro; da realidade interna para realidade externa; de uma história para outra... vazam água, sentidos e afetos, turvando a visão de quem tenta escrever uma nova história, num novo momento de vida.
Vazamentos de histórias/sentimentos de abandono, do outro que esquece, que não se importa, que te rechaça e te deixa no desamparo. A vulnerabilidade de uma criança de cinco anos que fica a espera na porta da escola, sem autonomia ou qualquer aparato de ordem objetiva ou subjetiva para dar conta da questão, é esse o verdadeiro terror do qual o roteiro trata.
 Dahlia (na versão americana) não é mais aquela menininha que esperava a mãe alcoolatra, na porta da escola. Agora, ela já é mãe. Mãe de Ceci, uma menininha que nem tem medo de ser esquecida!  Mãe e filha estão de mudança, após o divórcio do casal de pais de Ceci. O pai insiste que Ceci (ou Ikoku, na versão japonesa) deve ficar mais perto dele e justifica o fato pela desconfiança de que a mãe apresenta uma fragilidade de organização psíquica, Dahli insiste que isso ficou no passado e que a relação com a filha a fortalece. Mas, é a partir do momento no qual se vê pressionada a ter que dar conta – e mostrar que dá conta - de suas questões em momento de mudança e das questões da filha, que a fragilidade dessa organização começa a se manifestar. A menininha esquecida volta a reclamar seu lugar. Começa a tomar conta da cena, a transbordar e a fazer do novo lar, dividido por Dahlia e Ceci, um lugar onde se escuta vozes do passado, onde uma criança que não foi cuidada pela mãe impede que Dahlia cuide da filha ou que Ceci possa construir uma história ao lado da mãe e de novos amigos de escola. O fantasma passa a dominar (e assombrar) as duas: mãe e filha. “Vaza água do meu teto”, diz  a mãe cada vez mais acuada com as desconfianças do ex marido de que tal vazamento esteja transbordando sobre a filha, impactando em sua saúde mental. Enquanto isso, a história de um desaparecimento de uma criança do prédio vai sendo desvendada e, quem sabe, se separando da história de Dahlia. Ela segue lutando para poder cuidar de sua filha, como nunca foi cuidada e para descobrir o que acontecera com a menina sumida que desistiram de procurar. Nesses processos passa a poder pedir ajuda para dar conta dos vazamentos e até encontra boas parcerias, contudo, à essa altura, o fantasma de uma história já se condensou à dela e, como diz o poeta, “sabe lá, o que é não ter e ter que ter pra dar!”
Sem dúvida, as duas versões de Água Negra,  são filmes mais tristes que assustadores e mais delicados que aterrorizantes. Vale à pena assistir!

2 comentários:

Fabiana disse...

Ana, que boa iniciativa a desse blog.Ainda não assisti Água Negra mas brevemente o farei e então comentarei aqui.Deixo como para uma próxima postagem o filme O Passado. Muito bom e vale a pena assistir!
Bjs,
Fabiana

Unknown disse...

Fabi, estou adorando a ideia de abrirmos um novo espaço para trocas de ideias e impressões! Vou assistir ao filme sugerido para um novo bate bola. Beijos e obrigada