Água Negra
Por Ana Lucia Gondim
Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
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O suspense vivido por todos nós: a possibilidade de fantasmas de criança, desaparecidos nas estradas da vida, retomarem sua força e reaparecerem com cores do presente, em função de novos acontecimentos, novos cursos da vida. É isso que tira o fôlego tanto na versão japonesa, de Koji Suzuki (2002), quanto no remake americano, dirigido por Walter Salles (2005), de Água Negra. De um tempo para outro; de um andar para outro; da realidade interna para realidade externa; de uma história para outra... vazam água, sentidos e afetos, turvando a visão de quem tenta escrever uma nova história, num novo momento de vida.
Vazamentos
de histórias/sentimentos de abandono, do outro que esquece, que não se importa,
que te rechaça e te deixa no desamparo. A vulnerabilidade de uma criança de
cinco anos que fica a espera na porta da escola, sem autonomia ou qualquer
aparato de ordem objetiva ou subjetiva para dar conta da questão, é esse o
verdadeiro terror do qual o roteiro trata.
Dahlia (na versão americana) não é mais aquela
menininha que esperava a mãe alcoolatra, na porta da escola. Agora, ela já é
mãe. Mãe de Ceci, uma menininha que nem tem medo de ser esquecida! Mãe e filha estão de mudança, após o divórcio
do casal de pais de Ceci. O pai insiste que Ceci (ou Ikoku, na versão japonesa)
deve ficar mais perto dele e justifica o fato pela desconfiança de que a mãe
apresenta uma fragilidade de organização psíquica, Dahli insiste que isso ficou
no passado e que a relação com a filha a fortalece. Mas, é a partir do momento
no qual se vê pressionada a ter que dar conta – e mostrar que dá conta - de
suas questões em momento de mudança e das questões da filha, que a fragilidade
dessa organização começa a se manifestar. A menininha esquecida volta a
reclamar seu lugar. Começa a tomar conta da cena, a transbordar e a fazer do
novo lar, dividido por Dahlia e Ceci, um lugar onde se escuta vozes do passado,
onde uma criança que não foi cuidada pela mãe impede que Dahlia cuide da filha
ou que Ceci possa construir uma história ao lado da mãe e de novos amigos de
escola. O fantasma passa a dominar (e assombrar) as duas: mãe e filha. “Vaza água
do meu teto”, diz a mãe cada vez mais
acuada com as desconfianças do ex marido de que tal vazamento esteja
transbordando sobre a filha, impactando em sua saúde mental. Enquanto isso, a
história de um desaparecimento de uma criança do prédio vai sendo desvendada e,
quem sabe, se separando da história de Dahlia. Ela segue lutando para poder
cuidar de sua filha, como nunca foi cuidada e para descobrir o que acontecera
com a menina sumida que desistiram de procurar. Nesses processos passa a poder
pedir ajuda para dar conta dos vazamentos e até encontra boas parcerias,
contudo, à essa altura, o fantasma de uma história já se condensou à dela e,
como diz o poeta, “sabe lá, o que é não ter e ter que ter pra dar!”
2 comentários:
Ana, que boa iniciativa a desse blog.Ainda não assisti Água Negra mas brevemente o farei e então comentarei aqui.Deixo como para uma próxima postagem o filme O Passado. Muito bom e vale a pena assistir!
Bjs,
Fabiana
Fabi, estou adorando a ideia de abrirmos um novo espaço para trocas de ideias e impressões! Vou assistir ao filme sugerido para um novo bate bola. Beijos e obrigada
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