RÒSÁ
Por
Ana Lucia Gondim Bastos
novo endereço do blog: https://tecendoatrama.wordpress.com/
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No Bom Retiro, o espaço que fora projetado para ser o Instituto Cultural
Israelita Brasileiro, por judeus progressistas que se estabeleceram no bairro
na época da primeira guerra, hoje é a Casa do Povo. Já teve seu tempo áureo, seu
tempo de abandono e, agora, a casa modernista que abriga imensos salões com
problemas de má conservação bastante evidentes, volta a receber investimentos e
boa programação cultural. Nas noites de quinta a domingo, no último
andar, onde se chega depois de subir os muitos degraus de uma escada de pedra,
somos convidados a entrar e tomar nossos lugares no meio de uma estrutura de
madeira que reduz o espaço a um quadrado, montado bem no centro do enorme salão. É
lá que ficamos presos na próxima hora e meia em companhia de Lowri Evans, Lucia
Bronstein e Martha Kiss (esta última responsável pela concepção e direção do
espetáculo) . Presos em suas falas, em seus gestos, em suas músicas e nas
imagens projetadas. Presos na história, nas ideias, nas experiências e nas
sensações de Rosa de Luxemburgo, em seus dias de encarceramento, no início do
século XX.
Num quadrado branco, num cenário de
poucos recursos e muita criatividade, ficamos frente à capacidade humana de
transcender os limites do físico e da física - de se manter pulsante ainda que
numa conjuntura de engessamento, de se manter livre ainda que numa condição de
confinamento, de manter a delicadeza do olhar ainda que num espaço de extrema
dureza – a capacidade de sonhar e de se ter esperança, “de sentir toda a
importância, toda a beleza, toda a verdade. Eu penso (diz Rosa) que a cada vez,
a cada dia, se deve vivenciar as coisas novamente em plenitude; senti-las em
plenitude e aí sim se encontrariam palavras novas para coisas velhas e
conhecidas. Palavras vindas do coração e dirigidas ao coração”.
Ao que parece, também a Casa do Povo,
com Rosa, encontra palavras novas para o que já foi, sai da condição de
obsoleto para espaço de utilização criativa, da posição de sem condições para
potencial pulsante de realizações. Rosa utiliza qualquer espaço para cultivar
seu jardim, bastava estar no espaço para nele cultivar vida e, assim, pode
continuar sendo. Sem dúvida, Ròsá é um espetáculo, no mínimo, inspirador!
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