terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Trem Noturno para Lisboa



Trem Noturno para Lisboa
                             Por Ana Lucia Gondim Bastos

Porque a direção da vida está nas mãos do acaso, o professor suíço Raimund, personagem de Jeremy Irons em “Trem Noturno para Lisboa” (Bille August, 2013),tem seu caminho a mais um dia de trabalho atravessado pela oportunidade de salvar uma vida. A moça, que tem seu projeto de suicídio impedido pelo professor, deixa poucas pistas de sua história. Contudo, é através desse encontro que Raimund acaba por ter nas mãos o  livro do português Amadeu Almeida Prado, cuja leitura é estopim para se deixar levar numa busca pelo seu sentido de vida perdido. É justo dentro do livro, que lembra que o acaso rege a vida, que Raimund encontra uma passagem de trem para Lisboa e, então, passa a ter como interesse central de sua vida, há tempos sem interesse central, a busca por conhecer aquele autor que fala da morte e da finitude como dando beleza e horror à vida. Estrangeiro na terra de quem tocou tão fundo sua alma, Raimund tem seus óculos quebrados e novas lentes começam a pesar menos em seu rosto iluminado pelo interesse de desvendar uma história. A história, na qual começa a entrar, tem registros truncados de difícil junção, como tantas histórias de pessoas que resistiram a ditaduras (no caso a salazarista), mas cada fragmento vem cheio de emoção, convicção e sentimento de vida vivida com intensidade e fervor. O roteiro nos intriga e nos absorve como se estivéssemos frente a um quebra cabeça de mais de mil peças. Cada novo encaixe revela uma surpresa no que diz respeito à imagem que vai se formando. Imagem que vai remetendo Raimund a profundas reflexões existenciais e a encontros transformadores. Impossível não sermos tomados por essas reflexões, ainda mais às vésperas de um ano novo! Amadeu diz que contava os dias para que eles não o esmagassem. Talvez seja por isso que tenhamos que encerrar anos e recomeçar outros, contando o tempo para melhor lidar com ele, sem que o peso da incerteza do que estar por vir pese como chumbo em nossas costas. Ao contrário, precisamos que tal incerteza se banhe de esperança nos bons encontros e nas histórias de amor que ainda vamos viver. Que estejamos sempre prontos para trocar nossas lentes, quando estiverem pesando muito em nossos rostos, e que estejamos sempre prontos para embarcar em viagens que nos proporcionem novos encontros, outras paragens e trilhas alternativas. Feliz 2015! 

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